quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Bicicleta

                                           por valmir Roza Lima



Muitos me perguntam que tipo de bicicleta é mais apropriado pra uma viagem de uns 400 km em estradas.
Muitos acreditam que tem de ser uma bicicleta, com quadro  de alumínio ou carbono, e que ela tem de ter vários acessórios.
Errado !, a magrela tem de ser o mais simples possível, com poucos acessórios, pois quanto mais coisas ela tiver, mais coisas para quebrar no caminho.Temos de ter as ferramentas certas, bons freios câmbio de qualidade, cubo em ótimo estado e só. 
Eu também costumo trocar os pneus conforme o terreno que vou encontrar na viagem, sempre pneus de boa qualidade e novos pra não deixar agente na mão. Também sempre levo câmaras de ar de reserva.

Na minha opinião, o quadro da bicicleta tem de ser de ferro, pois quadro de alumínio passa a trepidação pro nosso corpo, e o quadro de carbono , se tiver alguma avaria, é difícil de soldar.
Com um quadro de ferro quebrado, você consegue solda em qualquer povoado e até em fazendas.
Quem quiser tirar mais dúvidas vá ao site   http://www.clubedecicloturismo.com.br/  lá tem tudo sobre o assunto e tem um manual de cicloviagem que é muito útil também.

Valmir Roza Lima























terça-feira, 26 de dezembro de 2017

   
                                                  

                                                            Missiones

 por Valmir Roza Lima


Um dos episódios mais fantásticos de nossa história , também ajuda a entender um pouco a introdução da Rabeca na America.  É mais um pedaço do quebra-cabeças que ajuda a desvendar aspectos  da ocupação do território, da utopia  e da convivência entre duas civilizações antagônicas.
Não vou explicar as Missiones "Reduções" aqui!, pois não é  esse o objetivo do blog, mais vale, instigar a  curiosidade, pra que o leitor vá se inteirar  dessa verdadeira epopeia que marcou para sempre a cultura das Américas.

Breve resumo

As Missões eram núcleos de evangelização construídos em plena floresta, onde conviviam em cidadelas de pedra, padres jesuítas e índios, as vezes 4 mil índios numa organização hierárquica  e social, nos moldes similares a  uma cidade europeia.
Os índios trabalhavam e produziam, para a corôa Espanhola. 
Algumas Missões eram grandes centros agrícolas, outras criavam gado, outras plantavam erva mate, e teve uma em especial que produzia instrumentos musicais, e toda a produção missioneira era levada de navio pra Espanha.
Ao mesmo tempo, os colonos Espanhois, pressionavam a corôa para que liberasse a escravidão indígena, pois era mão de obra grátis
.Porém, os nativos que viviam no regime das missões estavam protegidos dessa sorte.

Quando os bandeirantes Paulistas, souberam que nas florestas do sul,viviam milhares de candidatos a escravos, já domesticados e produzindo bens, começaram a atacar as missões, mas o golpe fatal viria da politica.
A verdade é que com o tratado de Madri celebrado entre os reinos de Espanha e Portugal, e a demarcação de novas fronteiras nas colônias do sul, os índios se sentiram traídos e depois de serem dizimados nas  guerras Guaranyticas, se dispersaram por todo o território, e hoje temos apenas as ruínas do que um dia foi uma experiência poderosa.
Eu e a Sandrinha, conhecemos a maioria das missões na Argentina, Bolívia e Brasil, só restando as do Paraguay pra fechar o ciclo. Nós até tentamos, mas numa viagem ao Paraguay em época de muita chuva, nos impediu, dias seguidos de tempestade nos expulsou de volta ao Brasil. Voltaremos em breve.

O número de  ruínas dessas missões se encontram hoje distribuídas dessa maneira :


Argentina   16  

Bolivia        11

Brasil            7

Paraguay     8


O que nos levou à esses povoados, foi a oportunidade de conhecer melhor a gente que havia derivado dessas missões presenciar as suas estórias, musicas etc...pois eu já sabia que alí haviam Guaranys que tocavam Rabeca.
Fomos pra Foz do Iguaçú, "nossa paixão" e daí atravessamos a fronteira e partimos pra província de Missiones na Argentina.
Em San Inácio tivemos o primeiro contato com as ruínas.
Um povoado pequeno, com muitas informações sobre o período das missões, muitos agrupamentos de povos originários no entorno, na área rural....uma festa pra um casal de curiosos.
Apesar de percorrer a região em ônibus, é uma viagem difícil, pouca estrutura, poucas opções de horários, acampamentos úmidos, região de muita chuva....mas enfim visitamos várias missões e povoados, conhecemos muita coisa importante pra entender o percurso de alguns tipos de Rabeca, o modo de construção de instrumentos musicais  que se praticava antigamente e o que restou dessas técnicas, enfim uma geral nesse tema de missões jesuíticas.
Terminando essa parte Argentina, nos embrenhamos em alguns caminhos e estroncamentos até chegar na fronteira com o Brasil, atravessamos o rio Uruguai em Porto Xavier e pegamos um ônibus direto pra Santo Ângelo RS, pra conhecer as Missões do Rio Grande do Sul.
Mas isso é história pra outro dia.


Valmir Roza Lima

























sábado, 23 de dezembro de 2017




      Forno Solar

    por Valmir Roza Lima          



No termino de  uma de minhas viagens de
bicicleta que fiz nos Andes, como sempre, eu
procurei uma escola rural pra fazer a doação de
minha bicicleta e de alguns equipamentos.de camping.

Eu estava em Humauaca, norte Argentino quase divisa com Chile e Bolivia e como acampar é uma febre nessa região, o povo valoriza muito equipamentos de camping e nas escolas rurais uma bicicleta é sempre bem vinda.


Churrillos é uma pequena comunidade a
uns 30 Km de Humahuaca pela ruta 9.Depois de fazer minha doação fiquei conversando com os professores e funcionários da escola e um objeto me chamou a atenção....num canto do patio algo que eu não conhecia e fiquei sabendo ser um forno solar e era usado pra cozinhar pras crianças.

Depois fiquei sabendo que esse tipo é muito usado por vários países Andinos.
Voltei pra casa e imediatamente comecei a pesquisar até que consegui construir o meu próprio Forno solar, e já cozinhei muito nele, você assa um frango só com a energia solar.
Quem quiser construir um é só pesquisar na internet.existem vários tutoriais ensinando.
Pra falar a verdade existe uma geladeira solar também, eu já fiz, mas isso é assunto pra outro dia.







Valmir Roza Lima






















sexta-feira, 22 de dezembro de 2017





Amigos  Chiquitanos





Essa foto foi  tirada nos estúdios da Radio Salta  http://radiosalta.com.ar/
No dia de minha visita, esse casal estava esperando pra entrar no ar, eles vieram da Bolivia "região de Chiquitos" e estavam ali, num trabalho de divulgação do famoso "Festival de música Sacra de Chiquitos".
Eu já conhecia a estória das músicas secretas  e já sabia das  missões Jesuíticas, mas nunca havia conhecido ninguém que morasse nessa região.
Depois de minha entrevista, fiquei conversando com eles muito tempo e a conversa foi tão envolvente que eu esqueci de pedir um contato deles.

Isso aconteceu em 2014, e agora em 2017 eu fui com a Sandrinha pra Chiquitos, recorremos várias Missões Jesuíticas  em várias cidades, conhecemos as igrejas históricas, os povoados, vimos um pouco do folclore Chiquitano e creio que ficamos lá uns 15 dias, mas não ví esse pessoal nunca mais....um apena.


quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Peregrinos na Montanha

por Valmir Rosa Lima



Esse relato é continuação da viagem que fiz em 2014 de Salta a Humahuaca em bicicleta.
Tenho de colocar essas viagens mais antigas primeiro e depois venho atualizando com as mais recentes.
Esse relato também foi publicado na revista Argentina "Solo Camping", uma revista que trata sobre viagens e camping,aliás é indispensável pra quem quer viajar , pois ela dá dicas e tem uma relação de campings em varios países da America do Sul veja o link     https://www.revistadecamping.com/     tenho  alguns relatos na seção  "Relatos de Viajeros".

                                         Peregrinação

Depois de descansar uns três dias e doar a minha bicicleta à escola rural de Churrillos, resolvi aceitar o convite da Andreia e telefonei pro  seu irmão para que ele me levasse até a montanha onde eu  poderia participar  da peregrinação à Virgen de Cuchillaco.
Essa peregrinação leva centenas de pessoas a uma montanha isolada, onde acampam, fazem missas , dançam e tocam folclore por uns quatro dias, depois descem trazendo uma imagem daSanta à igreja de Humahuaca. Mas na época eu não sabia  nada disso. Não fazia ideia do que seria a tal peregrinação.

Me encontrei com Marcelo, às quatro horas da manhã numa esquina de Humahuaca, saímos eu, ele, a Melinda e seu noivo.Eu me senti meio culpado por levar pouca bagagem, estava só com uma mochila de itens pessoais, uma manta térmica e um saco de dormir.
Os outros carregavam mochilas, mantas,barraca e sacolas, tinha até uma sacola só de carne.
Eu ajudava sempre que podia, mas enquanto caminhavamos eu ia ficando fraco e sem ar nos pulmões, já era o mal das alturas.
Eu nunca tive problemas com altitude e já enfrentei altitude maior que essa, porém estávamos subindo com mochilas em terreno de pedra e poeira com  sol e frio ao mesmo tempo, não é a mesma coisa que caminhar pelas ruas de La Paz ou Potosi.
Quanto mais subíamos , mais eu me cansava, a Melinda passava por mim, quase sorrindo do meu sofrimento, como pode !!! uma mulher subindo numa boa e eu quase morrendo!.






Por fim, depois de caminhar o dia todo chegamos à capela.

Fui apresentado ao pai da Andreia que já estava trabalhando na montanha com seus outros filhos. Essa turma no futuro se tornariam meus grandes companheiros de aventura.

Dei uma checada no local e notei que haviam muitas barracas e ainda estava chegando muita gente, a montanha parecia um formigueiro. A capela estava toda enfeitada com bandeirinhas, me pareceu familiar.

As bandas de sicuri não paravam de chegar, cada banda que chagava ia pro barracão que servia de cozinha e pegava uma comidinha quente pra se recuperar da subida.

Por fim, chegou a noite e poucas vezes eu vi tanta estrela. Humahuaca está a uns três mil e poucos metros de altitude, nós certamente estávamos a uns quatro mil, ou quase isso. talvez essa altitude e a escuridão da montanha tenham acendido as estrelas.

Com a noite vieram também as fogueiras, várias fogueiras salpicavam na montanha.

Com um limão na mão, Beto Ninaja começou a massagear uma peça de carne , eu fiquei feliz porque iria comer carne antes de dormir, mas me disseram pra pegar uma vasilha e entrar na fila da janta que já se aglomerava na pota do barracão da cozinha.

Uma cozinha improvisada, mulheres no meio da fumaça, não podia ser melhor, entrei na fila e comi algo como milho, batata, uma sopa de arroz e carne cozida. O pessoal do churrasco também comeu, depois voltamos pra fogueira pra comer churrasco.

Nessa noite me instalei numa das barracas da familia Ninaja.


Ah ! e com um detalhe, sem banho pois a água era controlada e não tinha como tomar banho enquanto estivéssemos ali.

A água já é difícil na cidade, imagine alí, no meio do nada.



 















foi essa festa por dois dias e no terceiro dia, todos acordaram bem cedo pra descer a montanha com a Santa.
De novo fila pra tomar o café. era fila pra almoçar e jantar, tudo na cozinha improvisada, muito bom.
Subir a montanha foi difícil mas descer foi dificílimo, pois pra descer, todos teriam de manter o mesmo ritmo e ainda se revesando pra carregar uns seis andores com as santas,mas com as bandas de Sicuri ditando o ritmo, o povo ia em frente.
Pra quem não sabe  Sicuri é aquela flauta de pan, que tem várias variações e uma delas é o Sicuri, Uma banda toca flautas,bumbos e matraca, alguns tocam flauta e bumbo ao mesmo tempo.
Chegamos em Humahuaca já pelas 20:00 Hs, o pessoal foi pra igreja, eu fui pra pousada tomar um banho e jantar.
Não preciso nem fazer aquele discurso de como foi emocionante e coisa e tal, não tem palavras pra descrever essa experiência.
Já voltei outras veses pra essa peregrinação, mas essa foi a primeira vez.
Outro dia eu conto das outras.






























Valmir Roza Lima




Fogareiros feitos por mim, tendo como matéria prima, latinhas velhas
 Funcionam muito bem.                                                                            
            Cada um pra um tipo de terreno, clima etc...         .                                                                                        
Valmir Roza Lima
























quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

viagem a "La Quebrada"    por Valmir Roza Lima   parte 5    

                      tilcara à Humahuaca                                                                                                                 

 Terminadas minhas tarefas em Tilcara, estrada novamente, agora pedalando rumo a Humahuaca.
Tenho uma estória interessante em humahuaca, em 2010, na primeira vez que estive em Humahuaca, nós estavamos de carro e depois da primeira noite dormida eu resolvi correr pela manhã. coloquei um modelito tipo fitness tênis e tudo pronto, comecei a correr , dai a 3 minutos comecei a ficar tonto e segurei num carro que estava estacionado na rua, mas notei que não conseguiria ficar de pé e sentei na calçada.
Na minha santa ignorância não tinha me dado conta de que a altitude em Humahuaca é de mais de 3.000 metros e não tem forasteiro valente que aguente  correr ali.
Agora não teria  problema pois estoava pedalando a uma semana, subindo aos poucos e me adaptando à altitude.


Achei que este seria o final da viagem e que eu só iria descansar e aproveitar a vida em Humahuaca, mas mal sabia que ali eu iria andar por uns três dias acampando pelas montanhas com centenas de pereguinos pra buscar uma Santa nas montanhas e trazer pra igreja da cidade.

Tudo começou porquê sempre que termino uma viagem de bicicleta eu faço uma doação. geralmente eu dou a bicicleta, a barraca, saco de dormir e todo material de camoing menos os materiais de estimação.
geralmente eu faço essa doação à uma escola rural ou a uma comunidade afastada da cidade.

Fiquei uns 4 dias em Humahuaca e eu sempre ia tomar café num restaurante pra aproveitar o WI-FI até que numa conversa contei a minha estória pra uma atendente, a Andréia .
Ela me disse que em alguns dias teria uma festa nas montanhas em que os peregrinos ficariam uns quatro dias acampados, e que teriam missas campais e grupos de musica nas montanhas e no domingo todos desceriam trazendo a Virgen de Cuchillaco pra igreja de Humahuaca.
Me disse também que sua familia  era responsavel por parte da organização ,e se eu quisesse poderia ir com eles pra essa festa.
Eu fiquei louco de felicidade, e já comecei a me organizar.
Teria de fazer a doação da bicicleta nos próximos dias e ficar livre pra ir pras montanhas. 
Mas antes disso, queria marcar um encontro pra conhecer pessoalmente uma cantoraça, que já conhece o brasil e que eu admiro muito que é a Marita de Humahuaca.
Conheci o Cantar  de Marita, pelas rádios Argentinas e pela internet. ela é uma representante dessa cultura Quebradeña, muito respeitada .
Jantei com Marita e seu filho Tupac, num restaurante muito tradicional, comemos guizado de Quinoa, e eu até toquei um pouco de Rabeca pra ela também.
Marita de Humahuaca canta a alma de sua região e do seu povo.










Depois de me informar em Humahuaca, parti para uma escola rural em Chorrillos, a uns trinta quilometros de Humahuaca pra fazer as doações.

No caminho me deparei com uma senhora e uma menina levando dezenas de cabritos pela estrada e elas vinham também com vários cachorros.

Eu continuei pedalando  e passaram todos os cabritos, a menina e quando eu menos esperava veio um cachorro tipo um poodle gigante silenciosamente por trás de mim e me deu uma mordida na crocodilagem, no silencio.

Doeu pra cacete e começou a sangrar, mas estava no meio do nada e segui em frente, até chegar na escola e colocar  alccol na mordida.

Doei minha bicicleta pra escola, a barraca e alguns apetrechos de camping, mas fiquei com a manta termica e o saco de dormir, pois ainda iria até a montanha.Pura tolice a minha pois eu iria aprender  que na montanha um saco de dormir não adianta de nada.

Almocei com os alunos e voltei pra Humahuaca de carona, mas a peregrinação na montanha eu vou contar num próximo post.






















        Valmir Roza Lima

Viagem a "La Quabrada"  por Valmir Roza Lima     parte 4               


                              Tumbaya à Tilcara     

                                  

Uma coisa importante a se dizer, é que desde a subida da serra de Barcenas, até a manhã em que eu saí de Tumbaya, eu ainda não tinha tomado um banho.
Depois de subir 6 horas de serra, no camping e eu não consegui manejar o aquecedor dos chuveiros que é uma mistura de eletricidade com gás,e não tinha ninguém pra me ajudar, o camping estava deserto, só vi os donos na entrada, depois sumiram.E tomar banho frio nessa altitude, sem chance....é um gelo.

Enfim, estava na estrada  pedalando rumo ao Norte novamente, parei num tipo de trevo pra fazer o café da manhã ,chá com pão e um tipo de queijo bem salgado.Não gosto de fazer os desajuños no camping, pois parece que estou perdendo tempo, gosto de comer na beira da estrada, pois é comer e começar a pedalar de novo.
Essa parte da viagem é tranquila e muito fácil, pois as cidades são próximas umas das outras, apesar da altitude, as estradas são retas com poucas subidas,e o pior já passou.

Passei direto pela entrada de Purmamarca, pois já conhecia o povoado , a Costa de Lipan e o deserto de sal...estava muito cedo e eu estava gostando de pedalar no sol manso da montanha.
Cheguei em Maimará pela hora do almoço, como sempre, fiz um lanche na entrada do povoado aproveitando a sombra das arvores.
O meu sistema de alimentação era o seguinte...com um fogareiro pequeno feito por mim mesmo, eu fazia chá com pão pela manhã, nunca almoçava, só comia frutas ou lanche e voltava a cozinhar sempre na janta.
O combustivel eu trouxe de casa, e eu mesmo quem fiz . Peguei aquelas bolinhas de algodão que se  vende nas farmácias e numa pequena panela, derreti algumas velas, joguei as bolinhas de algodão na parafina derretida, deixei secar e guardei.,ficou umas bolinhas duras e cada bolinha dessas dá uns 30 minutos de fogo.
Apesar de gostar muito de Maimará, fiquei pouco tempo,pedalei mais umas duas horas e já estava em Tilcara.

















Em Tilcara, me instalei no camping "El Jardin" que fica atrás do terminal de bus, do lado mais barato da cidade.

De tanto ouvir radios Argentinas, eu sabia que em Tilcara morava uma das mais importantes artistas, folclorista tocadora de vientos "flautas" da Argentina , que já era minha amiga de facebook mas eu queria conhece-la pessoalmente.

Pelo facebook entrei em contato com ela e pra minha sorte ela estava em Tilcara. Me passou o seu endereço e disse que poderia me receber na tarde do dia seguinte.

Micaela Chauque é uma mulher Coya muito bonita e muito respeitada na Argentina , pois é uma profunda conhecedora do folclore de sua gente e já vem de familia, pois seu pai dirige casas de cultura desde que ela era pequena.

Consegui encontrá-la ,conversamos uma tarde inteira sobre folclore,música e quando tirei minha Rabeca e toquei pra ela, ela foi lá pra dentro e trouxe uma Rabeca de lata que ela mesmo construiu, eu fiquei maravilhado e pedi permissão pra tirar uma foto.

Rabeca pra essa gente da tradição é uma coisa comum, pois esses paises foram colonizados por rabequeiros, por isso estou sempre por lá.

Essa tarde com Micaela Chauque reforçou ainda mais a minha admiração pela cultura originária.




                                                               








Valmir Roza Lima



segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Viagem por "La Quebrada"   por Valmir Roza Lima  parte 3                                                                                                                                                                                                   

     Yala à Tumbaya                                                                            



De Yala em diante a paisagem já começa a mudar, o verde vai ficando mais ralo, a terra parece mais árida, já vem os primeiros Cardones " cactus gigante" e eu noto que as montanhas começam a crescer, até que os cumes fiquem escondidos nas nuvens.Tudo isso é indicio de que estamos chegando perto de "La Quebrada".
Oficialmente, para efeitos burocráticos "La quebrada" começa um pouco mais à frente em Volcan, mas na prática creio que ela vem desde Jujuy, pois a comida, música alguns termos linguisticos e a paisagem já vão se mesclando entre sí e é dificil distinguir exatamente a fronteira humana entre as regiões.
Aqui, já começa a parte Andina e vai se elevando cada vez mais à medida em que avançamos.
Pedalando por essa estrada quase deserta, a Ruta 9, eu ia relembrando dos conselhos que me foram passados na conversa com os dois sujeitos do camping na noite anterior.
Eles me disseram o seguinte, de Yala até Volcán, eu iria pedalar 26 Km, porém a maior parte desse caminho seria de uma dura subida, uma serra famosa na região chamada Cuesta de Barcenas,eu estava meio preocupado, mas estava animado ao mesmo tempo.
Me lasquei.!!!...comecei a subir uma serra sem vegetação e sem sombra, lá pelas 10:00hs da manhã e cheguei lá no topo mais ou menos às16:00 hs empurrando a bicicleta com uns 35 kilos de bagagem.
Começava a mudar a altitude e o cansaço parecia chegar mais cedo, o ar ficava mais difícil de ser puxado pelos pulmões.

Tumbaya

passei direto por Volcán, só uma pequena visita ao mercado de artesanato que fica na beira da estrada e uma conversa rápida com alguns nativos.

Eu estava muito cansado pela subida de Barcenas e queria chegar logo a Tumbaya, pois sabia que ali teria um camping pra descansar e passar a noite.

Finalmente cheguei ao camping, o nome dava um pouco de medo" Esquina del  Viento", mas pra quem subiu a serra o dia inteiro, um pouco de vento não era nada.

Os donos do camping eram um jovem casal de Buenos Aires que estavam começando a vida por essas paragens. conversamos um pouco e fui conhecer o vilarejo antes da janta.


Surpresa !! ,

Para explicar essa surpresa tenho de voltar no tempo. Hà alguns anos atrás, quando eu e a Sandrinha estávamos em Lima no Peru, conhecemos numa igreja  antiga um santo popular que era um padre franciscano que por volta de 1580, vindo da  Espanha, viajou a pé do interior da Argentina até o Perú. Com um detalhe, ele tocava uma Rabeca e durante suas viagens pela America do Sul ele fundou muitos povoados e converteu muitos nativos tocando sua Rabeca.
É um tipo de São Francisco.
Como ele existem nesses países colonizados por Espanhóis, várias figuras míticas como Juan Perez Boca Negra, Domênico Zipoli etc...gente que viajava por essas terras tocando e interagindo musicalmente com os nativos.
Na época nós vimos a imagem dele pintada na igreja lá em Lima, tocando sua Rabeca, mas não conseguimos comprar nenhuma imagem dele com a Rabeca em nenhuma loja de santos no Perú. Desencanei.
Tive a maior surpresa de minha vida quando entrei na pracinha de Tumbaya e me deparei com uma estátua enorme dele com sua Rabeca na minha frente.
Tumbaya é um dos povoados em que ele passou na época em que perambulava pelos caminhos do sul.
Na verdade ele passou por todas essas cidadezinhas, até chegar ao Perú.
Eu já fiz um bom pedaço dos caminhos que ele trilhou,tanto na Argentina quanto na Bolivia e no Peru.

                                                                                                                                         





Rabeca ou violino ???

Eu sempre acho que esse andarilho tocava Rabeca, pois ele andou pelos Andes, por volta de 1570.
Nessa época segundo os autores que estudam o tema, o violino ainda estava sendo desenvolvido na Europa.
E quando surgiram os primeiros violinos, o instrumento  ficou restrito aos músicos e ao que tinha restado das cortes Euopeias, que o utilizava nos salões da nobreza, pois era ainda o começo do movimento renascentista.
O violino ainda demoraria muitos anos pra se popularizar e cair nas mãos do povo.

A Igreja Católica Reinou absoluta na Idade Média, mas nesses anos de 1500 em diante já não tinha o mesmo poder, pois toda  a organização social do mundo estava sendo transformada pela ciência pelas artes, filosofia e todas as mudanças que vieram depois do período Medieval.
Me parece improvável que um padre vindo da Espanha, pra uma região  inóspita como os Andes pudesse trazer um violino, que todos sabem é um instrumento frágil. Mais provável que esse instrumento fosse uma Rabeca, pois já era um instrumento vastamente utilizado na Europa, muito popular,pois em cada aldeia Espanhola temos vários modelos de Rabeca e a rabeca é um instrumento rústico que aguenta viagens perigosas.
Isso sem falar nos relatos de soldados Espanhois que relatam instrumentos musicais de arco já sendo tocados pelos nativos na época da conquista da região.
Quem conhece os Andes sabe que até hoje é um lugar difícil de se locomover e viajar, imagine em 1580 ???
Por tudo isso pra mim ele era um Rabequeiro.


Valmir Roza Lima