quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Peregrinos na Montanha

por Valmir Rosa Lima



Esse relato é continuação da viagem que fiz em 2014 de Salta a Humahuaca em bicicleta.
Tenho de colocar essas viagens mais antigas primeiro e depois venho atualizando com as mais recentes.
Esse relato também foi publicado na revista Argentina "Solo Camping", uma revista que trata sobre viagens e camping,aliás é indispensável pra quem quer viajar , pois ela dá dicas e tem uma relação de campings em varios países da America do Sul veja o link     https://www.revistadecamping.com/     tenho  alguns relatos na seção  "Relatos de Viajeros".

                                         Peregrinação

Depois de descansar uns três dias e doar a minha bicicleta à escola rural de Churrillos, resolvi aceitar o convite da Andreia e telefonei pro  seu irmão para que ele me levasse até a montanha onde eu  poderia participar  da peregrinação à Virgen de Cuchillaco.
Essa peregrinação leva centenas de pessoas a uma montanha isolada, onde acampam, fazem missas , dançam e tocam folclore por uns quatro dias, depois descem trazendo uma imagem daSanta à igreja de Humahuaca. Mas na época eu não sabia  nada disso. Não fazia ideia do que seria a tal peregrinação.

Me encontrei com Marcelo, às quatro horas da manhã numa esquina de Humahuaca, saímos eu, ele, a Melinda e seu noivo.Eu me senti meio culpado por levar pouca bagagem, estava só com uma mochila de itens pessoais, uma manta térmica e um saco de dormir.
Os outros carregavam mochilas, mantas,barraca e sacolas, tinha até uma sacola só de carne.
Eu ajudava sempre que podia, mas enquanto caminhavamos eu ia ficando fraco e sem ar nos pulmões, já era o mal das alturas.
Eu nunca tive problemas com altitude e já enfrentei altitude maior que essa, porém estávamos subindo com mochilas em terreno de pedra e poeira com  sol e frio ao mesmo tempo, não é a mesma coisa que caminhar pelas ruas de La Paz ou Potosi.
Quanto mais subíamos , mais eu me cansava, a Melinda passava por mim, quase sorrindo do meu sofrimento, como pode !!! uma mulher subindo numa boa e eu quase morrendo!.






Por fim, depois de caminhar o dia todo chegamos à capela.

Fui apresentado ao pai da Andreia que já estava trabalhando na montanha com seus outros filhos. Essa turma no futuro se tornariam meus grandes companheiros de aventura.

Dei uma checada no local e notei que haviam muitas barracas e ainda estava chegando muita gente, a montanha parecia um formigueiro. A capela estava toda enfeitada com bandeirinhas, me pareceu familiar.

As bandas de sicuri não paravam de chegar, cada banda que chagava ia pro barracão que servia de cozinha e pegava uma comidinha quente pra se recuperar da subida.

Por fim, chegou a noite e poucas vezes eu vi tanta estrela. Humahuaca está a uns três mil e poucos metros de altitude, nós certamente estávamos a uns quatro mil, ou quase isso. talvez essa altitude e a escuridão da montanha tenham acendido as estrelas.

Com a noite vieram também as fogueiras, várias fogueiras salpicavam na montanha.

Com um limão na mão, Beto Ninaja começou a massagear uma peça de carne , eu fiquei feliz porque iria comer carne antes de dormir, mas me disseram pra pegar uma vasilha e entrar na fila da janta que já se aglomerava na pota do barracão da cozinha.

Uma cozinha improvisada, mulheres no meio da fumaça, não podia ser melhor, entrei na fila e comi algo como milho, batata, uma sopa de arroz e carne cozida. O pessoal do churrasco também comeu, depois voltamos pra fogueira pra comer churrasco.

Nessa noite me instalei numa das barracas da familia Ninaja.


Ah ! e com um detalhe, sem banho pois a água era controlada e não tinha como tomar banho enquanto estivéssemos ali.

A água já é difícil na cidade, imagine alí, no meio do nada.



 















foi essa festa por dois dias e no terceiro dia, todos acordaram bem cedo pra descer a montanha com a Santa.
De novo fila pra tomar o café. era fila pra almoçar e jantar, tudo na cozinha improvisada, muito bom.
Subir a montanha foi difícil mas descer foi dificílimo, pois pra descer, todos teriam de manter o mesmo ritmo e ainda se revesando pra carregar uns seis andores com as santas,mas com as bandas de Sicuri ditando o ritmo, o povo ia em frente.
Pra quem não sabe  Sicuri é aquela flauta de pan, que tem várias variações e uma delas é o Sicuri, Uma banda toca flautas,bumbos e matraca, alguns tocam flauta e bumbo ao mesmo tempo.
Chegamos em Humahuaca já pelas 20:00 Hs, o pessoal foi pra igreja, eu fui pra pousada tomar um banho e jantar.
Não preciso nem fazer aquele discurso de como foi emocionante e coisa e tal, não tem palavras pra descrever essa experiência.
Já voltei outras veses pra essa peregrinação, mas essa foi a primeira vez.
Outro dia eu conto das outras.






























Valmir Roza Lima

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