segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 

O dia em que eu conheci Jacinta Condorí

Em junho de 2019, depois de construir quatro Rabecas  para a Orquestra  Latino Americana juvenil de Valparaiso “ Chile”, eu retornei à Argentina através do Paso Fronteiriço Los Libertadores, passando por Mendoza e viajando de bus até a minha querida e sempre aconchegante Salta.

Alí em Salta me esperava uma grande amiga, Maria Soledad com a qual já havia programado uma oficina de Rabecas na escola onde ela leciona.

Maria iria me hospedar por um final de semana, enquanto não começassem os trabalhos, depois eu ficaria por conta da escola.


Acontece que nessa noite em que eu cheguei haveria uma festa na casa de uns amigos dela e eu fui avisado de que essa casa também servia como um centro cultural alternativo.

                                                      Os Anfitriões da noite

Chegamos a noite na tal casa onde havia uma exposição de pinturas em um enorme salão. 

Conheçam esse centro cultural no link abaixo   https://www.facebook.com/pucaraculturalsalta/?ref=page_internal

Fui apresentado aos anfitriões e a alguns artistas que iriam se apresentar nessa noite.

Quando adentrei em um dos quintais da casa, o coordenador de toda a festa estava às voltas com uma enorme fogueira e uma panela gigantesca, onde preparava um Locro “comida folclórica e coletiva típica da Argentina” Na verdade o Locro é apreciado em várias regiões e países, mas cada um tem a sua versão.


Mesas, cadeiras arrumadas e o pátio todo enfeitado para as apresentações da noite. Eu não me apresentei, nessa noite eu só queria apreciar e conhecer as pessoas.

No friozinho gostoso de Salta, apesar de cansado eu estava começando a relaxar, quando chegou em nossa mesa pratos fumegantes com o delicioso Locro cozido e no imenso quintal começaram a desfilar os artistas locais cantando e mostrando suas poesias.

Minha amiga Maria, me apresentou uma bela mulher, alta com olhos e  cabelos negros, com traços dos povos originários que se sentou pra comer com agente.

Essa figura alta e esguia, tinha a dignidade própria dos que se orgulham e cantam a sua história.

                                                      

                                                         Jacinta Condori e Maria Soledad

Jacinta Condori    https://www.facebook.com/profile.php?id=100022042507004


Depois de um desfile de  poetas, músicos e escritores, Jacinta Condori  deixou a nossa mesa e subiu ao palco pra cantar canções típicas de sua terra, acompanhada somente por um violão, depois cantou Coplas tocando uma Caixa Coplera.

Eu estava maravilhado com o ambiente, com a música com os novos amigos e gostei muito da apresentação da Jacinta que se apresentou vestindo um poncho cor de Vinho típico da província Saltenha. “Na Argentina cada província tem um poncho típico”.

Depois dessa noite, conversando com meus amigos Saltenhos e pesquisando na internet, descobri que Jacinta Condori é uma cantora muito respeitada e reconhecida nacionalmente.


Nascida nos Vales Calchaquies, essa cantora representa o canto do seu povo e vive numa região muito musical.

Pelo que me disseram, Jacinta condori vem de Cafayate, onde tenho também alguns amigos, como Daniel Dámico, grande músico e construtor de instrumentos musicais.

Cafayate é um local muito conhecido também por abrigar uma famosa escola de luthieria.

Essa pequena história, se junta a várias outras que guardo com carinho, pois o que mais me emociona ultimamente é viajar de bicicleta e conhecer pessoas com trabalhos autênticos e originais.


Um dia eu me sentei pra comer na companhia de Jacinta Condori, mas eu ainda não conhecia a sua grandeza

Hoje aqui em casa escutando sua bela música eu me orgulho de um dia te-la conhecido.

Mais uma artista na grande lista de amigos que eu tenho em Salta e Jujuy.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

7 Pedaleando en la Puna 2017

                                   Povoados historicos na altitude

                                   por  Valmir Roza Lima




    Em 2017, depois de uma temporada viajando de õnibus e visitando várias Missões Jesuiticas, na região de Chiquitos na Bolivia, eu e a Sandrinha, resolvemos ir pra Cochabamba e Oruro, pra conhecer um pouco mais do folclore Boliviano.
    Depois de vários dias, já cansados de perambular pelo interior da Bolivia, finalmente chegamos em Oruro, a última parte da viagem.
    Combinamos que a Sandrinha voltaria para o Brasil de ônibus através de Santa Cruz, e eu compraria uma bicicleta, pegaria um trem que me deixaria próximo à Argentina e iria pedalando até Salta, pra rever meus amigos  Argentinos.
    Eu queria rever os povoados que eu tanto amo em  " La Quebrada", mas também tinha dois outros bons motivos pra fazer essa viagem.
    Carlos, um dos amigos de Humahuaca, companheiro de duas peregrinações que eu já fiz por essas montanhas com a Virgem de Cuchillaco, sofreu um grave atropelamento, há dois anos atrás e ficou muito mal, grave mesmo, e eu ainda não o tinha visto depois do acidente.
    O outro motivo é que eu queria conhecer a Maria Vuksanovich, uma moça que vive em Salta e que há uns anos atrás lutou e conseguiu organizar o "Primeiro Encontro de Luthiers em Salta". Além de trabalhar com música ela também é apaixonada por bicicleta.

Nos últimos dias em Oruro, eu perambulei por vários bairros, lojas e feiras até conseguir comprar uma bicicleta rasoavel pra atravessar a região de " La Quebrada" que é praticamente um deserto salpicado por alguns povoados.

Barraca e material de camping e sobrevivência já estavam em minha bagagem, fiz meu último almoço com a Sandrinha e embarquei num trem que em 16 ou 18 horas me deixaria em Villazon, fronteira com a Argentina.

Alguns trechos são intranponíveis no pedal.





A viagem de trem de Oruro a Villazon é muito bonita, mas deve ser feita durante o dia, pois o trem passa pelo " Salar de Uyuni" que fica naquela parte da Bolivia que tem um cenário futurista, com cores e texturas que só existem alí. O trem também é muito legal, dividido em duas classes, a mais cara onde só viajam estrangeiros é bem chata, pois só  viajam Europeus, e eles só conversam entre sí. Já na classe econômica, viajam os locais e são muito curiosos e conversadores, eu gosto de conhecer gente nessas ocasiões...só viajo na classe econômica.

Cheguei em Villazon pela manhã e caminhei pela cidade a procura de um café da manhã.
Eu já estive em villazon em 2010, mas agora a cidade estava muito diferente,caminhei pelo mercado, conheci o novo terminal de bus e gostei das mudanças que vi, ela continua com aquele jeito de cidade pequena de fronteira, com muito comercio e centenas de turistas Argentinos à procura de artigos baratos.
Resolví dormir e descansar em Villazon nesse dia.


Meu primeiro dia de pedal na estrada, não foi muito produtivo.

Descobri logo no começo da viagem que a altitude seria um problema sério e que eu deveria mudar a estratégia imediatamente.

Apesar de já estar acostumado a viajar em altitudes elevadas, é o primeiro pedal que eu faço a mais de 3.400 metros. A respiração começa a ficar mais difícil e o cansaço é mais acentuado.

Comecei intercalando  15 minutos de pedaladas e   meia hora de caminhada, pois é símplismente impossível pedalar mais de 15 minutos seguidos, talvez no segundo ou terceiro dia o corpo já apresente algum tipo de adaptação à altitude.

A altitude não é a únicara dificuldade nessa parte da Argentina.

Pra quem não sabe, essa é a parte Andina da Argentina, pois faz parte da Cordilheira dos Andes, com todas as suas características geográficas e culturais.

Encontrei muita dificuldade também porquê  de Villazon até Humahuaca, o clima é árido, muito seco e existem poucos povoados pelo caminho. São uns 160 km de sol bem quente, pouca água e lugar pra comprar alimentos, tudo isso, pedalando na altitude, onde só se avança uns 20 Km por dia.

Logo no começo da viagem, eu já estava arrependido, pedalei uns quatro dias nessas condições, depois o corpo foi se adaptando e o sofrimento foi se tornando suportável.



























No começo da viagem até que haviam algumas árvores secas na beira da estrada, mas no primeiro dia mesmo as árvores sumiram e o sol castigou forte, começou um deserto de dar medo, não havia nem aves pra quebrar a monotonia, e ainda tinha o perigo das Lhamas.

Quem acredita que Lhama é um bicho fofo, pode esquecer.

Quando elas estão em turma em seu ambiente natural, ficam agrupadas pastando, mas sempre tem uma de sentinela, se você passar batido não terá problemas, mas se parar perto do grupo, pra tirar foto ou algo assim, vem logo a sentinela correndo em sua direção. 

Eu ví esse grupo muito fofo das fotos acima e parei pra observa-las com calma, quase caí da bicicleta, pois veio essa preta grandona correndo em minha direção.

Eu não sei como elas atacam, creio que gospem e mordem a pessoa, não fiquei pra conferir.

Toda vez que eu passava por um grupo de Lhamas na beira da estrada, a sentinela ficava me encarando até eu ir embora.





De volta ao deserto, o que mais me incomodava nessa região era a falta de sombra, eu procurava em vão uma pequena sombra toda vez que queria comer algo, mas no final tinha de comer embaixo do sol mesmo.





























Eu estou acostumado a viajar de carro , onibus ou bicicleta por esses caminhos dos Andes, como Perú, Chile, Bolivia, Argentina ou até mesmo no Chaco Paraguayo. Uma coisa é comum a todos eles.

Quando o viajante tem algum tipo de problema, principalmente em lugares isolados, recorre a três instituições : Pede pousada na Igreja, na Escola ou por fim, na Policia. Um desses três órgãos vai te ajudar.


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                                      Estrada Solitária


Os primeiros dias demoravam uma eternidade pra passar, pedalando na altitude, debaixo de um sol infernal,e a certeza de um deserto que demoraria  dias ainda pra ser atravessado até chegar em Humahuaca, que é onde a viagem ficaria mais prazerosa, pois dali em diante a altitude começaria a baixar e eu tenho alguns amigos na região.. O que realmente preocupava era que a viagem estava apenas começando e eu já estava exausto.


Depois de atravessar a fronteira Bolívia x Argentina em direção ao sul, com cinco horas de pedal, o primeiro povoado é  "Pumahuasi",  pequeno e silencioso, casas fechadas e pessoas que evitavam conversar com estranhos em pequenas ruas desertas. Foi uma aventura encontrar uma casa onde se vendia água, pois eu não poderia entrar no deserto sem pelo ou menos uns tês litros, comprei também umas maçãs.......nesse tipo de viagem eu economizo a água de maneira que três litros dura uns cinco dias, não dá pra levar muita água pois pesa muito na bagagem.


A viagem foi se arrastando sofridamente, passei por  La Intermedia, Puesto del Marques e vários povoados menores até chegar a Abrapampa.
Sempre acampando e cozinhando na beira da estrada.
Porém em Abrapampa eu me dei de presente um grande PF, pra matar a saudade, arroz, macarrão, bife de Lhama,batata frita e ovo......depois de dias comendo polenta com mortadela, foi um néctar.

Abrapampa é famosa por ser o povoado mais alto da Argentina, mas dali em diante a altitude começaria a estabilizar, pra baixar mesmo de Humahuaca em diante.












Pelo fato da altitude e do calor, atrasarem o meu avanço, pedalei uns 3 dias antes de chegar a Humahuaca.
Passei por uns três povoados pequenos, e por um posto militar, onde fiz amizade com os soldados que ficam alí num lugar isolado, sem cidade por perto e debaixo de um sol torturante, com fardas e coturnos, porém foram muito simpáticos e voluntariosos comigo. Creio que eles ficam controlando gente e mercadoria que passam por alí vindos da Bolivia.
De Abrapampa até Humahuaca, o  maior povoado é " Tres Cruces".

Há uns 30 Km antes de chegar a Humahuaca, passei por Churrillos, e em frente a uma escola rural a qual em 2015 eu doei uma bicicleta, barraca e alguns materiais de camping, como sempre faço ao final das viagens de bicicleta.
Pena que por ser umas cinco horas da manhã, a escola estava fechada, mas eu fiquei feliz pois essa escola sinalizava que eu já estava perto de Humahuaca.
Geralmente eu começava a pedalar muito cedo, umas quatro ou cinco da manhã, pois era mais fresco, às nove da manhã o sol já judiava de quente.e durante o dia não havia sombra pra se esconder.Isso iría me dar problemas mais adiante.


                                       Humahuaca


Finalmente, depois de muito pedalar eu entro em Humahuaca.

Mil lembranças vem em minha mente, um misto de cansaço, fome e alegria.

Fui ao teminal de bus, pois sabia que não encontraria algo pra comer mais barato do que alí, e depois de saborear um choripan enorme, comecei a passear pelas ruas estreitas empurrando a bicicleta.

Não demorou muito, encontrei meu amigo Orlando German, que estava caminhando pelas ruas. Surpreso por me ver, me deu um abraço, conversamos um pouco, trocamos telefone e nos despedimos. 

Depois de matar as saudades passeando pelo mercado, estava cansado e procurei um Camping pra me instalar e descansar o esqueleto.

Atravessei a ponte e entrei no quintal de um camping mas percebi que do outro lado da cerca, haviam uns homens sentados conversando na sombra de uma arvore . Não me importei e fui entrando pelo quintal.

Porém uma voz me parecia familiar, olhei com mais atenção me aproximei e não pude acreditar, alí estava Beto ninaja conversando com uns amigos.

Beto Ninaja, é um amigo que eu conheci em 2015 e já participamos de duas peregrinações a Cuchillaco juntos, uma festa em que subimos uma montanha e ficamos acampados durante alguns dias na montanha com missas campais comida coletiva danças e musicas folcloricas.

Na verdade, ele é quem me levou nas duas vezes e quase tudo o que eu sei de como me locomover por essa região eu aprendi com ele e sua familia,  coisas de comida, plantas, costumes e tradições nortenhas.

Ficamos surpresos, nos abraçamos e rimos muito. Eu estava aliviado, pois sabia que não estaria mais sozinho.

























Fiquei em Humahuaca uns 3 dias pra descansar e rever alguns amigos.

Descansei bastante comi bastante e dormi muito. Três dias de vadiagem me preparando pra pedalar o resto do caminho até minha querida Salta.

Afora as mudanças normais que o tempo impõe a esses povoados, não vi muita modernagem em Humahuaca, e gostei muito de revê-la toda cheia de estudantes, velhos, turistas portenhos e crianças correndo por suas vielas de pedra.

Na noite de minha despedida, fui convidado à jantar na casa de Beto Ninaja, encontrei alguns amigos e comi um macarrão delicioso com enormes pedaços de carne preparado por Marcelo, meu antigo companheiro de peregrinação.





Saí de Humahuaca pela manhã, a minha parte preferida do dia.

Pedalei sob o sol suave da manhã, já em uma altitude mais baixa e com menos cansaço.

Passei por Uquia, comprei umas bananas e comi sob a sombra da igreja.

A manhã parecia perfeita e tudo estava calmo, eu mal desconfiava que acontecimentos sinistros estavam por vir.

Depois de me distanciar uns dez quilômetros de Uquia, senti que meu pneu traseiro estava vazio. Conferi e ele estava mesmo furado.

Como eu sempre tenho camaras reservas, parei pra trocar o pneu, uma operação simples.

Pneu trocado, fui alegre e sorridente pedalando, até que quinze minutos depois estourou o pneu dianteiro. 

Eu não acreditei, pois pneu furado não é muito normal. Na viagem que eu havia feito em bicicleta de Florianópolis até São Paulo em 2010 eu furei um só pneu, pedalei de Salta até humahuaca em 2014 e não furei nenhum pneu, pedalei de Foz do Iguaçú até Posadas e também não furei nenhum pneu.

Era inacreditável que em meia hora eu furasse dois pneus....algo estava errado, mas eu não sabia o que era.

Depois de me arrastar por uns kilômetros eu encontrei um borracheiro que consertou as camaras de ar e eu segui viagem.













Finalmente cheguei em Tilcara, povoado turístico muito famoso que conserva também aspectos culturais de seus povos originários.

Não é a primeira vez que venho por aqui, mas notei mudanças drásticas no modo de vida dessa gente. Um dos meus campings favoritos "El Jardim" estava muito caro, o povoado estava qualhado dessas scooters, correndo e fazendo barulho o tempo todo.

Já pela tardezinha, pedalando pelas vielas e procurando um camping mais barato, tive outro pneu estourado. o meu psicológico já começava a ficar abalado.

Procurei a única bicicletaria que havia em Tilcara, mas estava fechada e desativada, pois seu dono havia virado atleta proficional de montain bike.

Eu já estava sem esperança quando fui pra beira da estrada e entrei numa borracharia e pedi um conselho, pois em Tilcara não há lojas, eu estava a pelo ou menos uns cento e poucos quilômetros de uma cidade granda "Jujuy" e eu precisava de camaras e pneus novos. Estava sem saída.


O dono da borracharia tinha o telefone do tal ex dono da bicicletaria, e o chamou pra ver se me ajudava.

Depois de alguns minutos o homem chegou e me explicou o problema, olhando a minha bicicleta, em um minuto  ele matou a charada:  como eu havia comprado a bicicleta em Oruro, eu estava pedalando um mixto de bicicleta com peças Chinesas e Bolivianas, quer dizer as peças eram de muito baixa qualidade, pois na Bolivia eles barateavam o máximo na montagem, pra o produto final não ficar muito caro.

Isso quer dizer que os pneus e as camaras eram de baixa qualidade e teriam de ser trocados. Trocamos todos os pneus e camaras, e aí é que veio a facada, creio que gastei  quatrocentos pesos, mas fiquei com a bicicleta inteira novamente.


















Agora, com a bicicleta arrumada, eu teria de dormir na rua pra economizar o dinheiro e reequilibrar as finanças, pois gastei um dinheiro que não estava previsto.

Fui pra rodoviária, pois sabia  que lá tinha a sopa mais barata do povoado, e eu não estava nada animado pra cozinhar, depois de todos esses contratempos.

Depois de tomar a sopa, eu estava decidido a dormir ali mesmo nos bancos do terminal de bus, mas a minha intuição falou mais forte.


Eu já conheço e ando por essa região desde 2010, pelo ou menos uma vez por ano eu estou por essas bandas, e nunca tive problemas de segurança, mas nessa noite em Tilcara, eu senti que ia ser roubado. Quem mora em São Paulo, não se aperta em lugar nenhum e eu conheço um ladrão, pelo jeito de andar.

Sentí que haviam dois elementos esperando eu dormir pra entrarem em ação, então resolvi dormir num banco de praça que fica em frente à comissaria de plolicia. Tive uma surpresa, pois teve ocorrências a noite toda. muitas scooters apreendidas sem documento, e muitas mães, vindo buscar filhos que eram pegos sem documentos correndo com essas  scooters, que se tornarm uma verdadeira febre em Tilcara.

Acorrentei minha bicicleta num banco, peguei o saco de dormir e me aninhei ali mesmo, e fiquei meio dorme-não dorme até o dia seguinte.





Depois de uma noite tenebrosa na minha querida Tilcara, que até hoje só tinha me dado bons momentos, saí pedalando em direção a Maimará, disposto a tomar um bom café e esquecer os maus momentos da noite anterior,

Maimará, pela manhã é muito bonita e acolhedora, depois de algumas iniciativas nos últimos anos, como uma  rotunda nova , um centro cultural e uma revista nova editada na cidade, está se tornando o que Tilcara foi no passado, um povoado acolhedor em que os turistas se sentem bem tratados.

Passei por Maimará e continuei o pedal em direção a Tumbaya , pequeno povoado em que eu já havia dormido numa viagem anterior, e também de onde todo ano parte  uma peregrinação famosa na região.

Por volta de 1600, um padre que tocava Rabecas , viajou a pé de Santiago Del Estero "Argentina"   até  Lima "Perú" fundando vilas e construindo igrejas pelo caminho, reunindo os nativos com a ajuda de sua Rabeca. Tumbaya é um desses povoados onde ele passou, descansou e foi isso que me trouxe aqui pela primeira vez há alguns anos atrás.

Depois de passar por Tumbaya e me reabastecer de água, pão e mortadela eu segui em frente sempre pedalando sob um sol cruel.

Surpresa !!!!!  um pouco antes de chegar em  Volcan, um carro buzina, para à minha frente e começa uma gritaria !! era o Beto Ninaja e sua famìlia que estavam indo pra Jujuy. Paramos ali na estrada, tiramos uma selfie e rimos muito. Depois disso seguimos nossos caminhos, Beto rumo a Jujuy e eu pedalando em direção a Volcan.


Meu Deus ! Volcan há cerca de um ano atrás havia passado por uma tragédia terrìvel, uma avalanche de lama, que desceu das montanhas e cobriu parte do povoado. Eu já tinha ouvido falar nisso, mas passando ali e vendo aquelas montanhas de entulho na beira da estrada, me chocou um pouco. volcan ainda não havia se recuperado.

Ainda um pouco chateado, segui em frente sabendo que dali em diante, a altitude ia baixar um pouco, pois logo viria " Barcenas", uma descida de quase 10 kilômetros , que baixaria a altitude em uns mil metros.

Eu já estava com o organismo totalmente adaptado, pois desde Humahuaca a altitude vinha baixando. Alí estava eu, passando por Yala em direção a Jujuy. 

























continua


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domingo, 21 de janeiro de 2018

Guerreiras

                      Guerreiras  que já me acompanharam

                                                      por  Valmir Roza Lima





                                           Florianópolis x São Paulo   2010





                                                Salta Ar  x  Humahuaca Ar    2014





                                                       Foz do Iguaçú Br  x Posadas Ar    2016





                                                                  Villazon Bv  x  Salta Ar   2017






                                                           Villazón Bv  x  Tupiza Bv   2018




                                                                    
                                                     Peruíbe SP  X  Paranaguá PR  2020



As duas primeiras são a mesma bicicleta, a única que fez duas viagens.
As outras foram doadas.
Geralmente eu faço uma doação a cada final de jornada. 
Dou a bicicleta, barraca, e alguns apetrechos de camping, geralmente pra alguma escola rural
Fico só com a roupa do corpo e alguns itens de estimação como facas, fogareiros e ferramentas.
Não que eu seja bonzinho ou solidário, é que no final das viagens, eu não aguento  mais nem ver bicicleta na minha frente, e além disso, fica mais fácil voltar pra casa.
Saudades dessas guerreiras.

Valmir Roza Lima


sábado, 13 de janeiro de 2018

                                      Carne assada na montanha


por valmir Roza Lima


Das muitas lembranças que tenho dos amigos de Humahuaca, as mais emocionantes são das peregrinações que fizemos à Cuchillaco.
Beto Ninaja e sua família, sempre me acolheram muito bem e sempre me motivaram nas horas mais difíceis. Não é fácil pra um estrangeiro acostumado em altitudes baixas, sair de humahuaca e subir a puna com carga ,mochila e barraca até Cuchillaco.

Humahuaca já está a uns 3000 metros de altitude....Cuchillaco deve estar a uns 4000, eu sempre sinto muito cansaço.
Porém há momentos que fazem tudo valer a pena. Fora as missas campais, as bandas de sicuri e todo o clima que envolve qualquer tipo de peregrinação, é uma delicia assar carne na montanha.
Nós costumávamos assar a carne acendendo uma fogueira improvisada, e procurar  uma pedra liza pra servir como mesa de corte.

Depois de todos comerem, a pedra sempre ficava embebida com uma mistura de gordura,sangue e resto de carne; era a hora de todos pegarem seus pães e passar na pedra pra pegar esse caldo delicioso.
Essa é a lembrança mais gostosa que eu trago das montanhas.





                                                   Baixando a Virgensita até  Humahuaca






Descansando















Chegando à Cuchillaco






Começando os trabalhos








                                                                   Mafia Reunida



























sexta-feira, 12 de janeiro de 2018


                               Samuel Acosta tocando instrumento originário.


Instrumentos de arco tradicionais do Chaco Argentino

por  Valmir Roza Lima


Pelo ou menos uma vez por ano eu passo pelo Chaco Paraguayo e Argentino a caminho do norte.

Às vezes em ônibus, outras vezes de bicicleta, mas sempre tenho um tempo pra perambular pelas ruas de Resistência, Clorinda, Formosa e outras.

Quando cheguei em Resistência pela primeira vez, notei uma pequena rabequinha de lata, exposta pra venda num quiosque da rodoviária, em meio a alguns itens  como facas, cuias e artigos de gauchos.
Achei que fosse algum tipo de artesanato, e não dei muita atenção, pois a rabequinha era muito pequena e dificilmente seria tocada por alguém.


Eu teria de permanecer em Resistência até o dia seguinte pra embarcar num ônibus que me levaria a Salta, e então fui pro centro passear pela cidade. Precisando de uma internet pra me comunicar com a Sandrinha, fiquei sabendo que teria de ir até uma biblioteca na praça central, pois ali se poderia usar um computador sem nenhum custo. 
Na porta dessa biblioteca, tinha um cartaz enorme com a foto de um homem tocando um instrumento igualzinho àquela pequena rabeca de lata que eu tinha visto na rodoviária.

. O cartaz fazia parte de uma campanha, onde vários outros cartazes, espalhados pela cidade, chamavam a atenção para a cultura tradicional do povo Quon.

Depois disso, eu passei a conversar com gente que entende desses povos tradicionais  do Chaco.
Já voltei a essa região várias vezes, e sempre fico um tempo pra investigar essas coisas.
Descobri que só no Chaco Argentino existem quatro tipos de Rabeca tradicional, utilizadas por seis etnias diferentes ou mais, e nas cercanias das cidades ficam os bairros indígenas onde esses instrumentos são utilizados.

Os violinos de lata do Chaco são reconhecidos pelos pesquisadores e historiadores que investigam instrumentos autóctones, como sendo a mais original expressão da cultura Quon.
Dizem alguns que os povos do Chaco tocam esses violinos desde antes da chegada dos Espanhóis, e que antes das latas, construíam o instrumento com casca de frutas e crânios de animais.

Uma coisa é certa, a indescritível emoção de assistir esses tocadores na periferia dessas cidades.


Claro que todas as minhas andanças e anotações estão guardadas e vão servir pra no futuro eu publicar, juntamente com outras informações, meu testemunho sobre os vários tipos de instrumentos de arco originários que encontro em minhas viagens pela America do Sul
Depois de passar pelo Chaco várias vezes, eu consegui o meu exemplar de Rabeca de Lata e trouxe para fazer parte de meu acervo particular. Essa eu posso mostrar.







































Valmir Roza Lima