segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Viagem por "La Quebrada" por Valmir Roza Lima    parte 1                                                                               

                

 São Paulo à Salta       


Em 2010, eu fiz uma viagem marcente, com minha companheira Sandrinha.
Juntamente com nossos amigos Angela e Zildo, partindo de Córdoba na Argentina, fomos para o norte  alugamos um carro e recorremos a região de Salta, Jujy e " La Quebrada" durante alguns dias. Depois eu a a Sandrinha fomos pra Potosí e várias cidades da Bolivia em bus e trem.
Foi a primeira vez que viajei pelo norte Argentino e eu fiquei apaixonado por essa região e sua gente.

Voltando pra SP eu comecei a planejar uma volta à essa região, mas dessa vez de uma maneira mais insólita, como ha alguns anos atrás, eu já havia viajado vários dias de bicicleta entre Florianópolis e São Paulo , resolvi que faria essa viagem pela Argentina no pedal mesmo.
comecei a pesquisar, ler relatos de viagem de outros ciclistas, coloquei a melhor rádio de Salta no meu celular  www.radiosalta.com.ar   e comecei a ouvir noticias da região e saber das rotinas do povo e um pouco sobre sua cultura.

Depois de fazer um kit de sobrevivência, comprar alguns itens como saco de dormir, uma barraca bem simples pra 2 pessoas,manta térmica etc.. juntei algum dinheiro, montei 2 alforges de lona e preparei minha  bicicleta.Uma bicicleta pra esse tipo de viagem tem de ser bem simples, pois quanto mais acessórios, mais coisas pra quebrar no caminho, uma bicicleta de ferro pode ser soldada em qualquer lugar, ao contrário das de carbono ou alumínio, a bicicleta comum tem manutenção mais fácil.

Vai começar a jornada


Logo após o carnaval de 2014 eu comprei uma passagem num ônibus que partiu em direção a Assunción no Paraguay, e levei minha bicicleta no bagageiro sem precisar pagar nada a mais por isso.
Depois de sair do Brasil e atravessar a ponte da Amizade, o ônibus atravessou o Paraguay todo até chegar em Assunción
O terminal de Assunción é bem tranquilo, mas as ruas do entorno são meio suspeitas e segundo os trabalhadores do local, se você não tem motivos não precisa ficar andando por ali, mas eu sou curioso.
Peguei um hotel bem em frente ao terminal, pois teria de embarcar  num outro ônibus no dia seguinte.O hotel era uma construção de madeira, quarto bem simples.
Nas calçadas em volta do terminal, há várias churrasqueiras e quando anoitece é uma fumaça só.
A janta foi boa, muita carne assada, muita mandioca e pouco arroz.

No dia seguinte ao embarcar num  ônibus pra Resistência, tive de pagar uma propina, pela bicicleta, eu já estava puto da vida, pois na fronteira Paraguay/Argentina, tentaram me extorquir, pelo fato de eu estar com uma bicicleta no bagageiro, mas eu dei uma de migué e despistei os policiais.
Nessas fronteiras, qualquer bagagem grande já chama a atenção dos policiais e você tem de pagar o que eles quiserem, nos ônibus também.

Uns cinco Km depois da fronteira, havia um paro "bloqueio " na estrada, o povo estava protestando por falta de gás e não deixava nenhum veiculo passar. ficamos da hora do almoço até umas 23:00 Hs parados, quando por fim começamos a rodar.
Chegamos à Resistência lá pelas 3 ou 4 da manhã e naquela madrugada, havia um elemento surpresa !! era a noite daquele eclipse em que a lua ficou gigantesca e amarela, enorme mesmo.
Eu passei o resto da madrugada ali, no saguão do terminal, olhando pra lua, e de manhã fui passear na cidade, pois o ônibus pra Salta sairia só depois do almoço.

O violino de lata


Pra quem não se lembra, Resistência é aquela cidade em que a seleção brasileira foi jogar e acabou a energia elétrica ou "desligaram", e o jogo foi interrompido e adiado.
É uma cidade bonita e essa é a região de algumas etnias de povos originários que tocam uma Rabeca de uma corda só.
Dizem que há relatos de Espanhóis que viram esses instrumentos serem tocados já na época da colonização do Chaco.
Essa Rabeca que hoje em dia é feita de lata, e é um dos elementos mais importantes na identidade de algumas etnias dessa região,e quase todos os grupos indigenas tem a sua versão desse instrumento, até alguns grupos de música popular os utilizam.





















Pois bem, na hora de embarcar com minha bicicleta no ônibus que me levaria a Salta, mais uma novela, o motorista queria cobrar um preço absurdo e depois de muita discussão, combinamos um preço que nunca é justo.

Mas não tem o que fazer, eles cobram o que querem.

Não dava pra ir de bicicleta até Salta, pois são mil e poucos Km além de demorar muito,  o foco de minha viagem era Salta e Jujuy.


Depois de uma tarde e uma noite mal dormida dentro do ônibus finalmente chegamos em Salta "La Linda". desci e montei minha bicicleta ali mesmo , amarrei os alforges, peguei água e sai pedalando pela manhã Salteña.
A sensação foi indescritível, depois de um sobe e desce de vários ônibus ali estava eu ,feliz no parque San Martin pedalando sob o sol manso da manhã, em direção ao centro.
O dia começava lentamente com poucos carros me acompanhando , algumas crianças gritando em direção à escola e um cheiro de grama que me acompanhou até o hotel das irmãs espanholas que eu conhecera na viagem anterior.
Dei entrada no Hostal Helena e saí imediatamente pra matar as saudades caminhando pela praça 9 de julho, passeando nas peatonales e no mercado.
Descanso em dia, bem alimentado chegou a hora de visitar meus amigos da Radio Salta e conhecer pessoalmente aquelas pessoas que eu ouvia pelo radio do celular sempre que estava trabalhando em minha oficina.
As amizades virtuais agora iriam se materializar.
Me informei de endereço e horários e cheguei na radio bem na hora do meu programa favorito " La terde con amigos". Cumprimentei pessoalmente  meus amigos Léo Tejerina, Jorge "Kuki" Carrasco e Polyto Zumbai, dei uma entrevista no programa, falei sobre a viagem de bicicleta que ia fazer pela região,toquei minha Rabeca de Cabaça e saí muito emocionado.

       Valmir Roza Lima

Nenhum comentário:

Postar um comentário